Música Acusmática com composições de Jaime Reis

3 Maio, 2024 pelas 19h00 (sexta)
no Auditório do Conservatório de Música de Viseu


Entrada gratuita • Sem reserva
Sujeito à lotação da sala​

Programa

JAIME REIS (1983)
Corpos Sonoros I: reencarnação*
Phonopolis
Fluxus, Lift
Jeux de L’Espace
(performer altifalante ultradireccional: Beatriz Costa)
Magistri Mei: Bruckner
Fluxus, Pas Trop Haut Dans Le Ciel

*estreia mundial; encomenda Festival Primavera

Ficha Artística

Composição: Jaime Reis
Fotografia de Sofia Nunes

Corpos Sonoros I: reencarnação
(2023-24)
O ciclo Corpos Sonoros parte de P. Schaeffer, F. Bayle, A. Vande Gorne, Harry Partch, irmãos Baschet e outros proponentes de concepções sobre: som, objecto escultórico e gesto.

A primeira peça – reencarnação – surge de um projecto pedagógico e de criação comunitária, com a minha curadoria, orientado pelo Projecto DME / Lisboa Incomum, que decorreu na sua primeira fase entre Abril de 2023 e Abril de 2024.

Inicialmente com a colaboração da Associação Passa Sabi, uma associação de moradores do bairro do Rego (onde se situa o Lisboa Incomum), foram criados instrumentos musicais realizados com materiais reutilizados – objet trouvé – e concretizados segundo princípios de criação de material sonoro de Pierre Schaeffer, relacionados com o seu conceito de “corpo sonoro”.

A construção foi realizada por membros da comunidade, nomeadamente crianças do bairro, sob a orientação de Bitocas Fernandes e resultando na criação colaborativa de objectos escultóricos passíveis de ser tocados como instrumentos musicais.

Membros do CRIA-ISCTE – Centro em Rede de Investigação em Antropologia e o INET-md – Instituto de Etnomusicologia (FCSH/UNL) acompanharam o processo e facultaram propostas de abordagens comparativas e complementares.

O resultado público da primeira fase resultou numa performance-instalação liderada por Filipe Sousa, Bitocas Fernandes, Mariana Vieira e Jaime Reis, num projecto elaborado através de trabalho colaborativo e participativo com artistas locais, estudantes e membros da comunidade em geral. A apresentação decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, no dia 11 de Fevereiro de 2024.

A reunião destes elementos, horas de improvisação e sessões de gravação realizadas com os referidos objectos escultóricos e outros construídos por mim (em sessões assistidas por Beatriz Costa, Caio Rodrigues, Cristóvão Almeida, Mariana Vieira, Marta Domingues e Tiago Jónatas), foram reificadas em milhares de objectos sonoros que reencarnam os gestos, movimentos e estados de energia onde o idios comunal emerge.
Os aspectos formais evocam imagéticas como: corpúsculos sonoros; ressaltos / reflexões; tensões / deformações; grãos.

Phonopolis
(2003-04)
Surgiu da necessidade pessoal de tentar explorar fenómenos fonéticos específicos. Musicalmente, os elementos rítmicos e o seu tratamento constituem o âmago de toda a peça, que está estruturada em 3 partes. 1 – exploração polifónica de linhas desenvolvidas a partir das referidas “complementaridades fonéticas”; 2 – canon; 3 – explorações tímbricas.

Fluxus, Lift
(2013)
Pertence ao ciclo Fluxus, cujas peças são inspiradas em elementos da Física e nas quais são desenvolvidos elementos musicais que se relacionam com determinados fenómenos físicos relacionados com a mecânica dos fluidos. Outras peças deste ciclo são Fluxus, Dimensionless sound, para flauta e electrónica, Fluxus, Transitional Flow, entre outras composições. Nesta peça em particular foram gravados sons de aviões do Aeroclube de Torres Vedras e utilizadas técnicas de síntese que simulassem tipologias de sons que remetessem para a ideia de “sustentação” numa perspectiva aerodinâmica e musical.

Jeux de L’Espace
(2015)
Em 2010, escrevi uma peça para o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa em que é utilizado um altifalante paramétrico. A mesma tecnologia é utilizada aqui. Além de sons sintetizados, utilizei sons da NASA e ESA. A peça foi estreada no Festival Monaco Électroacoustique 2015. Alguns aspectos musicais sobre a peça estão publicados em: Reis, J. (2016). Short overview in parametric loudspeakers array technology and its implications in spatialization in electronic music. In International Computer Music Conference (pp. 242–248). Utrecht.

Magistri Mei: Bruckner
(2020)
“Magistri Mei” trata-se de um ciclo de peças que procura lidar com o peso e o legado da tradição da música erudita ocidental.
Assumo esta herança com uma posição particular de ruptura, pois, no meu entender, a própria noção de tradição impele-me a questioná-la. Esta peça em particular é uma “petit hommage” às ideias de polifonia de Anton Bruckner, que tento explorar não só através do desenvolvimento polifónico tradicional, mas principalmente através da espacialização sonora ligada a gestos musicais expressos em padrões espaciais que viajam num sistema de som em forma de cúpula.
Esta obra foi encomendada no âmbito do projeto “Embodied Gestures” pelo Tangible Music Lab (Universidade de Arte e Design, Linz, Áustria). Nesta obra, há uma preocupação em explorar o gesto físico na música. Esta ideia foi facilitada pelas novas interfaces musicais desenvolvidas no âmbito deste projecto de investigação, que foram utilizadas na concepção e criação desta peça, a par de algoritmos, padrões regulares e a supremacia do gesto materializado em objectos sonoros num contraponto de polifonia espacial.

Fluxus, Pas Trop Haut Dans Le Ciel
(2017)
Esta peça em particular está centrada em ideias relacionadas com o que chamei de paisagens sonoras “aéreas”. O desenvolvimento formal é baseado em 3 pilares inspirados pelos conceitos de Bernie Krause: geofonia, biofonia e antropofonia (géophonie, biophonie, anthropophonie). As secções estão interligadas por movimentos espaciais específicos que revelam ou escondem os seus percursos, pelo reconhecimento de fontes sonoras e outros eventos de modo a criar momentos que são mais ou menos claros na sua própria percepção.
A espacialização sonora actua como um parâmetro musical central, onde a distribuição do som pelos altifalantes está relacionada não só com diferentes tipos de movimentos e “formas” espaciais, mas também com mudanças espectrais, velocidades diferentes e outros parâmetros que tornam os movimentos espaciais (percursos) mais, menos ou até mesmo irreconhecíveis. Algumas “formas” ou “percursos” espaciais relacionam diferentes parâmetros de modo a criar movimentos a que chamei de “rotações elípticas”, “espirais”, “rotações”, “explosões espectrais”, relacionadas com movimentos ascendentes ou descendentes do som ou “sucções de som”, “paredes de som”, “pontos”, “formas geométricas”, “curvas de lissajous”, “enxames de sons”, entre outros. Tais “formas” / “percursos” não se destinam a serem ouvidos como um catálogo de movimentos, mas relacionam-se com aspectos formais da macro-estrutura, e também com o “fluxo de energia” que está presente em cada um dos mundos sonoros.
Alguns aspectos musicais sobre esta peça e Magistri Mei: Bruckner estão publicados em: Reis, J. (2022). Exploring polyphony in spatial patterns in acousmatic music. In E. Tomás, T. Gorbach, H. Tellioğlu, & M. Kaltenbrunner (Eds.), Embodied Gestures. TU Wien Academic Press.

Biografia

JAIME REIS
Jaime Reis (n. 1983) é um compositor português.
Estudou Composição e Música Electroacústica com João Pedro Oliveira, Emmanuel Nunes e K. Stockhausen. Continuou os seus estudos de doutoramento na Universidade Nova de Lisboa em Etnomusicologia.
O pensamento musical de Jaime Reis é informado pelo seu grande interesse pela investigação em ciências naturais e pela sua permanente atenção às tradições musicais – e, de facto, espirituais – asiáticas.
Um dos seus focos é a dinâmica das formas, forças e fluxos em música. Explora percursos polifónicos espaciais através de sistemas de som imersivos em forma de cúpula.
Outra característica marcante da sua música é a presença de conceitos complexos que sustentam a construção das suas peças, muito embora não distraindo o ouvinte da sua beleza sensível. As ideias funcionam como funções ocultas que, apesar do seu rigor intelectual, geram formas musicais voluptuosas.
Jaime Reis é professor de Composição e Música Electroacústica na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML) e investigador no Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova de Lisboa. É director artístico do Festival DME e do Lisboa Incomum, que desenvolvem uma intensa actividade de investigação e criação de música erudita contemporânea.
A sua música foi tocada em todo o mundo por ensembles e músicos como Christophe Desjardins, Pierre-Yves Artaud, Aida-Carmen Soanea, Ana Telles, ensemble Fractales, Ensemble Horizonte, Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, Machina Lírica, Orchestre de Flûtes Français e Aleph Gitarrenquartett.

Biografia escrita por Monika Streitová, flautista e Professora na Universidade de Évora; Maio 2020; retirada de jaimereis.pt

O concerto